Entre muitas outras coisas, 2021 será lembrado como o ano em que a cadeia global de suprimentos entrou em colapso. De uma hora para outra, quase tudo que pode ser comprado se tornou escasso ou difícil de obter: carros, chips de computador, alimentos, brinquedos, equipamentos hospitalares, aparelhos de ginástica. Em um tempo em que a principal marca do capitalismo é o consumo imediato, sem espera e sem atrito, a falta de produtos parecia algo vindo de um mundo esquecido e enterrado, da época das grandes guerras.
A causa principal dessa escassez é a pandemia. Logo quando começou, a crise sanitária desencadeada pelo vírus fez com que muitas fábricas sediadas em “gigantes industriais” como China, Taiwan, Coreia do Sul e Alemanha fossem obrigadas a fechar para prevenir surtos locais. Isso, por sua vez, diminuiu a demanda global por transporte — justamente num momento em que o consumo disparou. Trancadas em casa e sem opções de lazer, as pessoas passaram a comprar mais, tanto para preencher seu tempo como para adaptar o ambiente doméstico à rotina de trabalho e estudo.
A indústria tentou se adequar a essa escalada da demanda, mas ela foi tão radical que a falta de insumos se tornou um problema incontornável. Faltaram também contêineres, o que fez com que produtos se acumulassem, imóveis, em depósitos e portos mundo afora. Os custos da exportação, em alguns lugares, mais que decuplicaram. Quando os produtos finalmente chegavam ao seu destino, a sobrecarga de serviço e a necessidade de os trabalhadores da logística observarem a quarentena atrasavam mais ainda o processo. Não bastasse tudo isso, um navio ainda ficou encalhado por seis dias no canal de Suez, em março.
Não se sabe quando a escassez vai acabar, mas é possível tirar lições do que vimos até agora. Se, por um lado, a pandemia tem sua parcela de culpa nessa confusão descomunal — que ameaça afetar inclusive a disponibilidade de produtos na Black Friday e no Natal —, por outro lado, a crise também foi ampliada por um histórico de má gestão da cadeia de suprimentos da parte das empresas, que haviam se habituado a economizar o máximo com a manutenção de inventários. A prevenção de instabilidades parece algo distante para a maioria dos executivos, e, portanto, nunca foi uma prioridade.
A boa notícia é que hoje há soluções para minimizar essas intempéries com a utilização de plataformas que transformam milhares de dados de sell-out, estoque e execução dos PDVs físicos e digitais em indicadores e insights estratégicos. Por exemplo: com a análise de dados em larga escala, é possível detectar e corrigir ineficiências em tempo real, como nos casos de itens parados, estoques negativos e perda de vendas. Já a coleta de informações e indicadores de trade marketing nos pontos de venda auxilia as empresas a atuarem com velocidade nos seus estoques, minimizando prejuízos e sendo mais assertivos em suas estratégias no ponto de venda. E, no ambiente de e-commerce, o monitoramento do desempenho dos produtos gera conhecimento para que as empresas vendam mais e melhor.
Integrados de forma estratégica, esses três fatores podem ser decisivos para aprimorar os negócios e manter a eficiência em tempos de crise, além de auxiliar no controle de estoque e alavancar as vendas dos varejos. É imprescindível, em 2021, que as empresas tenham uma política estruturada em profundidade para gerir seus estoques de produtos, e que usem as ferramentas tecnológicas mais avançadas para atingir esse propósito.
Afinal, a crise logística global enfatiza a importância da gestão inteligente dos produtos, e confirma a máxima de que, muitas vezes, o barato sai caro. Não investir em soluções que sincronizam a cadeia de abastecimento hoje pode prejudicar diretamente a sua empresa amanhã. Quando não se pode contar sempre com o fluxo de navios e contêineres ao redor do mundo, o caminho é optar pelo estoicismo logístico: fazer o possível dentro do que está sob nosso controle.
*Por David Abuhab, Chief Strategy Officer da Neogrid.
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