Um dos fatores de sucesso de projetos de VMI (Vendor Managed Inventory) e CPFR (Collaborative Planning, Forecast and Replenishment) está relacionado com a forma a qual o mesmo produto é cadastrado na indústria e seus canais de distribuição. É importantíssimo que, em uma plataforma de VMI ou CPFR, o produto seja facilmente identificado na indústria, na distribuição e no varejo para que , sendo corretamente configurado, atenda às necessidades de venda da distribuição e também vença todas as restrições logísticas impostas pela indústria. Não se trata somente de equalizar o código e descrição do produto, mas uma série de atributos físicos e logísticos que cada produto carrega, como tamanho, acondicionamento, quantidade mínima, unitização dentre outros.
Mas qual a real dificuldade de compartilhar estas características ao longo da cadeia de suprimentos, principalmente no mercado brasileiro?
Via de regra, quando os atributos e codificações são analisados de forma isolada, alguns fazem sentido somente na indústria, outros somente na distribuição, outros somente no varejo. O esforço necessário para o cadastramento, em muitos casos, não se justifica em comparação a outras atividades operacionais no negócio e, em uma avaliação superficial, acaba agregando pouco valor.
Outra forte motivação é a adesão relativamente recente de empresas brasileiras ao uso de sistemas de gestão empresarial (ERP). Nota-se claramente uma tendência a utilizar soluções prontas ou de “prateleira” que, em sua maioria, não são preparadas para integrar com sistemas externos de cadastros de produto e seus respectivos parâmetros logísticos.
No âmbito global, entretanto, já existem alternativas para minimizar este abismo tecnológico entre indústrias e canais de distribuição. São entidades independentes e especializadas como a UCCNet, cujo foco é agregar informações de produtos de consumo e insumos e integrá-lo para seus cooperados. Com este serviço, a indústria passa a promover lançamento de produtos, descontinuação e adequação de itens de forma sistêmica para sua rede de distribuição através de um parceiro tecnológico. O objetivo do parceiro é fornecer padrões de acondicionamento, dimensões, embalagem, multiplicadores de lote, quantidade mínima e demais características que sejam importantes para estabelecer relações de compra e venda de produtos na cadeia de suprimentos
Este tipo de serviço já encontra certo grau de padronização para o varejo no Brasil, sobretudo no ramo de bens de consumo. Destaca-se a atuação da entidade sem fins lucrativos GS1 Brasil (antiga EAN Brasil), que promove a padronização de produtos neste segmento e já agrega mais de 55 mil empresas assinantes, através de serviços como codificação em barra de produtos de consumo nacionais, seguindo os padrões internacionais de catalogação.
Enquanto estes tipos de iniciativa não atingem o grau de maturidade desejável, as empresas vêem-se obrigadas a tratar esta restrição de forma localizada, através do desenvolvimento de soluções de conversão dentro das próprias plataformas de planejamento e reposição. Normalmente as conversões usam como referencia os pontos mais “fortes” da cadeia, de forma a facilitar a assimilação dos demais parceiros. Entretanto tal prática demanda grandes esforços de manutenção e monitoramento e requer altos índices de confiabilidade para não comprometer as operações.
Em suma, não basta haver um alto nível de parceria na cadeia de suprimentos. É necessário que todos falem a mesma língua!
Gilberto Ciola da Silva
Consultor de Supply Chain NeoGrid