Curva ABC: como utilizar na gestão de estoque?

A curva ABC é uma ferramenta administrativa fundamental para a gestão de estoques de excelência. Também chamada de “curva de Pareto”, baseia-se na ideia de que grande parte do custo total com matéria-prima concentra-se no gasto com poucos itens. Segundo essa teoria, cerca de 20%/30% dos materiais estocados respondem por 80% do capital investido.

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Esse método de categorização de estoques pode ajudar os profissionais da cadeia de suprimentos porque permite identificar os itens que merecem mais atenção e tratamento especial quanto à sua gestão e planejamento de compras.

A classificação ABC nada tem a ver com o preço unitário dos insumos armazenados no estoque. Imagine que sua empresa tenha entre seus materiais uma inofensiva resma de papel A4 que custa R$ 25,00. Do outro lado, tenha também peças para engrenagens que custam, cada uma, R$ 3.000,00.

Agora suponha que sua demanda de resmas seja de 4.000 ao mês, enquanto a de peças, 30. Qual material impõe maior cuidado da equipe de compras/estoques? Pois é, a resposta é o papel (custo R$ 100 mil/mês contra R$ 90 mil/mês das peças). A curva ABC agrega todos os seus itens de estoque para avaliar exatamente isso, o peso relativo que determinados grupos de itens têm sobre suas finanças.

Vamos aprender como utilizá-la para reduzir custos com materiais?

Vantagens da curva ABC

Tenha em mente o seguinte: estoque é custo. Pode ter certeza que, se o setor financeiro pudesse, não deixaria que uma única borracha sequer fosse comprada na empresa antes que a atual estivesse em tamanho quase molecular. Isso porque cada centavo que fica imobilizado (e na forma de mercadorias paradas no estoque) poderia estar sendo utilizado para gerar mais dinheiro à empresa.

O ideal, portanto, é que a empresa nem sequer tivesse estoque (trabalhasse sob encomenda, comprando a estrita quantidade de insumos que precisa para produzir o que vai vender no mesmo dia). Entretanto, sabemos que esse formato “Just in Time”, tal como usado na indústria automobilística japonesa, é inviável na maior parte das organizações.

E já que é necessário manter determinado nível de estoque para garantir a continuidade da produção (protegendo-se contra eventuais atrasos/sazonalidades), é preciso dispor de soluções automáticas para gestão de suprimentos, que se baseiam em coleta de dados de consumo real para, por meio de estatística e algoritmos, determinar com precisão sua necessidade de compra, sem estimativas ou intuição. E, por trás de toda a tecnologia desses softwares, são usados métodos matemáticos como os da curva ABC.

A utilização dessa categorização oferece como vantagem, entre outras coisas:

Estoque em sintonia com a demanda

A curva ABC trata desigualmente itens de importância desigual. Essa premissa garante que os itens mais críticos de seu estoque sejam sempre entregues, evitando desabastecimento de um material difícil de ser conseguido, produzido por um único fornecedor ou de valor muito alto (fatores de dificuldades em uma compra emergencial).

Considerando que os demais insumos podem ser adquiridos com mais facilidade, o olhar atento sobre os materiais mais “pesados” do ponto de vista financeiro facilita a gestão de estoques de forma inteligente e mais econômica, sem desperdícios ou risco de rupturas que possam paralisar a produção.

A classificação ABC é, portanto, uma das ferramentas matemáticas usadas em softwares de gestão da cadeia de suprimentos para promover sintonia fina entre estoque e demanda real. Em virtude de seu grau de complexidade, não é concebível imaginar que uma empresa faça todos os cálculos que você verá abaixo de forma manual.

Otimização da logística

Se você já sabe antecipadamente os materiais que podem comprometer seu fluxo de caixa (e também os que têm grande potencial de paralisação de seu negócio), pode adaptar toda sua cadeia de suprimentos de modo a assegurar a compra de cada item crítico no timing exato de suas necessidades.

Melhoria da saúde financeira

A curva ABC evita compra em volumes desnecessários, falha que representa desperdício de capital de giro a empresas de qualquer segmento, sendo especialmente catastrófico às que atuam no varejo alimentício (com matéria-prima perecível).

Com uma robusta consciência de negócios, a empresa consegue negociar melhor suas matérias-primas mais críticas, empregar seu capital de forma mais estratégica e, assim, melhorar a saúde financeira da empresa.

Aumento da produtividade e entregas mais rápidas

Sem riscos de rupturas de estoque e com melhor estruturação financeira (por meio do controle de custos), a empresa se torna capaz de produzir em maior quantidade e com entregas mais céleres.

Como montar a curva ABC?

A curva ABC é a expressão gráfica de uma estatística que categoriza seus materiais em ordem de importância relativa (comparações de custo total). Vamos dar o exemplo de uma empresa hipotética que tenha 10 insumos diferentes em seu estoque.

1º Passo: listar seus itens de acordo com a tabela abaixo

Material  Preço Unit (R$) Consumo (unid./mês) Valor Total (R$) Colocação (importância) A 40.000 1 40.000 7 B 15.000 2 30.000 8 C 8 9.000 72.000 5 D 20 10.000 200.000 3 E 1.400 30 42.000 6 F 3 200.000 600.000 1 G 0,5 200.000 100.000 4 H 32 500 16.000 9 I 3 1.500 4.500 10 J 5 80.000 400.000 2 TOTAL R$ 1.504.500

Agora vamos colocar tudo isso em ordem.

2º Passo: organizar a tabela de acordo com o custo total de cada item por mês

Material  Preço Unit (R$) Consumo (unid./mês) Valor Total (R$) Colocação (importância) F 3 200.000 600.000 1 J 5 80.000 400.000 2 D 20 10.000 200.000 3 G 0,5 200.000 100.000 4 C 8 9.000 72.000 5 E 1.400 30 42.000 6 A 40.000 1 40.000 7 B 15.000 2 30.000 8 H 32 500 16.000 9 I 3 1.500 4.500 10 TOTAL R$ 1.504.500

Com uma simples olhada nesse “embrião” da curva ABC, já é possível perceber que os 3 primeiros itens somam R$ 1,2 milhão em custos mensais à empresa, ou seja, quase 80% do capital empregado em estoques. Mas vamos confirmar essa informação.

3º passo: fazer a frequência acumulada dos resultados

A frequência acumulada (percentual) é um importante recurso estatístico para organizar e compreender os dados de forma objetiva. Ela faz a soma gradativa dos percentuais que correspondem a uma determinada quantidade de itens, até chegarmos a 100%.

Você vai ver na tabela abaixo que, na 4ª coluna, cada linha “acumula” o percentual da linha anterior, fechando nossa conta em 100%. Vamos ver como trabalhar isso na prática:

Material           Valor Total (R$) Valor Acum. (R$) Freq. Acum. Arred. (%) F 600.000 600.000 39,9% J 400.000 1.000.000 66,5% D 200.000 1.200.000 79,7% G 100.000 1.300.000 86,4% C 72.000 1.372.000 91,2% E 42.000 1.414.000 94,1% A 40.000 1.454.000 96,6% B 30.000 1.484.000 98,6% H 16.000 1.500.000 99,7% I 4.500 R$ 1.504.500 100% TOTAL R$ 1.504.500

Prontinho! Veja que confirmamos a veracidade na teoria da curva ABC: apenas os itens F, J e D respondem por quase 80% do capital de nossa empresa hipotética.

Ou seja: não adianta debruçar-se por muito tempo sobre a provisão do item I (de menos relevância financeira) e, com isso, deixar o material F acabar. Este insumo, tanto pelo seu imenso consumo ao mês quanto pela proporção de dinheiro que exige, não poderá ser provisionado de uma hora para outra, concorda?

Além disso, esses itens (F, J e D) não podem ser comprados em excesso, sob pena de desmobilizarem totalmente a organização. Se a empresa não tiver acesso a essa classificação, tem alta probabilidade de “quebrar” comprando desmedidamente esses materiais (cuja aquisição demanda planejamento especial).

A partir desses dados, fica fácil montar um gráfico com curva ascendente, no qual temos na ordenada (eixo y) o volume acumulado de capital empregado e na abscissa (eixo x), o número de itens (1,2,3,4…).

Vale a pena salientar que apesar de o nome ser “curva” ABC, nem é necessário construir o gráfico para visualizar o que é crítico em sua empresa. A simples tabela com a frequência acumulada (como fizemos por último) permite visualizar essa faixa de importância.

É importante destacar que a curva ABC sempre deve ser baseada no volume de vendas (consumo real). Soluções completas para gestão logística (como a da Neogrid) usam esse tipo de parâmetro e ainda adaptam essa curva para a gestão de estoque por nível de atividade.

Ou seja, o uso desse tipo de tecnologia é imprescindível para ter um estoque eficiente e funcional. Vale lembrar que a curva ABC pode ainda ser empregada em outras perspectivas, como na análise de custos, avaliação de desempenho e melhoria de processos.

Pois bem, chegamos ao final por hoje. A propósito, e em sua empresa, como é feito o controle de estoques? A curva ABC é utilizada? Deixe sua mensagem abaixo!

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