Entenda o termo TPC nos processos produtivos

Já ouviu falar em TPC? Não se trata de nenhuma sigla do mercado financeiro, e sim de uma metodologia de gestão operacional extremamente importante para simplificar a gestão e aumentar o fluxo de valor na produção de uma empresa ou indústria. Se você é gestor de uma organização que tem qualquer nível de fluxo produtivo, essas 3 letras são fundamentais à sua rotina.

Formulado pelo físico israelense Dr. Eliyahu M. Goldratt no livro “A Meta” (1984), o método DBR (Drum-Buffer-Rope, em português, Tambor-Pulmão-Corda) foi criado para demonstrar a aplicação da Teoria das Restrições (TOC) ao ambiente de produção. A TOC é uma filosofia de negócios que se baseia na ideia de qualquer organização complexa tem sua capacidade de gerar valor controlada por um (ou muito poucos) pontos: a Restrição. Decidindo como extrair valor da capacidade da Restrição e alinhando todas partes da organização para esta decisão faz com que se gere um resultado Global muito maior.

Não importa o setor (serviços, indústria de base ou de consumo, varejo, além de departamentos financeiros, contabilidade, jurídico e até área educacional): se sua unidade está subordinada a um fluxo de operações, o TPC deve servir como bússola à sua organização! Veja por quais razões!

Do que se trata a Teoria das Restrições, base da metodologia TPC nos processos produtivos?

A Teoria das Restrições (TOC — Theory of Constraints) é uma metodologia de gestão utilizada em diversas áreas e que, na administração empresarial e fabril  auxilia o gestor a gerenciar melhor seu fluxo de processos e da produção por meio da extração de valor da(s) Restrição(ões) do fluxo e sincronização das demais atividades a esta extração de valor.

Essa Restrição no processo pode ocorrer por pouca capacidade de equipamentos, complexidade de produção ou falta de sincronia entre estoque e setor produtivo, apenas para citar alguns exemplos. As soluções, nestes casos, passam por primeiro decidir como explorar a capacidade atual, ou seja não desperdiçar este recurso caro e valioso, segundo por subordinar todas as atividades relacionadas a esta decisão e somente quando estas duas forem esgotadas considerar investimentos (compra de máquinas mais modernas, reorganização dos turnos de trabalho ou implementação de um software para gestão da cadeia de suprimentos).

Em resumo, a Teoria das Restrições percebe o fluxo produtivo de uma organização como uma rede de elos interdependentes. Assim, a aceleração em uma etapa anterior a Restrição, pode representar esforço material e financeiro desnecessários. Da mesma forma, o melhor aproveitamento dessa limitação certamente impacta a velocidade dos produtos acabados produzidos na fase posterior. Tudo está conectado. E é aqui que entra o conceito de TPC.

Tambor

Todo fluxo produtivo tem uma Restrição. Se não tivesse o resultado seria produção infinita. Porém simplesmente reconhecer o fato não garante o aproveitamento pleno da capacidade da Restrição.

O primeiro problema é termos uma dessincronia entre partes do fluxo, causando ou excessos (que podem criar engarrafamentos, perda de prioridades, problemas de qualidade, etc.) ou faltas (que podem deixar a Restrição ociosa, levar a horas extras, etc.) de trabalho no fluxo (WIP).

Para ilustrar, vamos imaginar um processo simplificado, composto por apenas 3 etapas (A, B e C), com tempo de execução na indústria, respectivamente, de 1 hora, 4 horas e 2 horas. Assim:

Entrada — A (1 hora) — B (4 horas) — C (2 horas) — Saída

Vamos imaginar agora que todas as fases produzam em sua capacidade máxima. Teríamos então a produção máxima da indústria, certo? Embora pareça óbvio, a resposta é: não. E vamos explicar a razão.

Em uma jornada de 8 horas diárias, a etapa A produziria 8 peças, a B produziria 2 componentes e a C, 4 produtos acabados. Consideremos também que cada peça produz um componente e cada componente produz um produto final.

Com essas informações em mente, veja que a atuação máxima da etapa A produz um volume excedente, que não é aproveitado integralmente (no mesmo tempo) na etapa posterior. Isso porque a fase B limita a produção da empresa. O ritmo de B determina a produção global da empresa. A programação de trabalho de B é chamada de Tambor e ela determina como devemos sincronizar os demais passos para chegar a um ótimo global.

Se observarmos de perto o fluxo de processos nesta organização, saberemos, neste caso, que a organização produz 120 produtos/mês (se funcionar ininterruptamente, assumindo 30 dias de trabalho com dois turnos de 8hs cada), informação que auxilia na gestão dos estoques para evitar sobras ou rupturas. Existem soluções automatizadas para gestão da cadeia de suprimentos que consideram essa variável em seus algoritmos.

Mas você ainda deve estar se perguntando o porquê do nome dessa fase. Este se origina dos antigos navios com muito remadores onde a sincronização entre eles era essencial para garantir velocidade e rápida resposta às diferentes condições enfrentadas. A solução mais comum era um tambor marcando o ritmo adequado, assim todos remavam sempre na velocidade adequada sem necessidade de nenhum sistema de comunicação sofisticado. Daí o nome “tambor” para a o ritmo ou programação da etapa B em nossa abordagem TPC.

Pulmão

No exemplo anterior, mostramos que a etapa B produz 2 componentes em 8 horas (2 a cada 4 horas, utilizando 2 peças fabricadas na etapa A. Embora a produção dessa fase A seja realizada com sobras (8 por dia), imagine se ocorresse algum problema que fizesse com que fosse produzida uma única peça por dia?

Nesta situação haveria um desperdício da capacidade limitada da Restrição,o que representa uma perda global para a empresa diminuindo a produção industrial da mesma. Para proteger a Restrição não basta programar o que tem que passar por ela e quando, precisamos garantir que existe tempo suficiente para compensar eventuais problemas antes da Restrição este tempo de antecipação na liberação de trabalho é chamado de “pulmão”. O pulmão se refere ao tempo para recuperar de imprevistos para garantir o efetivo aproveitamento da Restrição. Trata-se de um fôlego, daí o nome escolhido pelo físico israelense.

Assim como o organismo precisa de reserva de oxigênio, uma empresa/indústria também precisa desse sobressalente. Para que este tempo não seja exagerado é fundamental que os passos anteriores à restrição tenham capacidade superior a ela para poderem compensar eventuais problemas em um tempo razoável.

Corda

Por fim, chegamos à corda. Este é o mecanismo de controle de liberação de trabalho, amarrando o Tambor – ou a programação da Restrição – a liberação de novos trabalhos para o fluxo produtivo. Controla tanto o que deve-se começar a produzir no dia quanto o que não se deve começar a produzir no dia.

Usando o tambor como base e o pulmão como dimensionador a corda mantém o estoque em processo (WIP) sempre controlado, evitando sobrecargas e faltas e garantindo a fluidez do processo.

No que o TPC impacta a produção e o faturamento de uma empresa?

No cenário acima não adianta sobre produzir peças antes de B (digamos 8 ou mais) já que B só pode consumir 2 peças por dia. Essa sobre produção consome recursos e atenção e acaba gerando engarrafamentos, prioridades equivocadas no fluxo e acima de tudo o estoque excessivo entre departamentos faz com que cada departamento (ou passo na produção) acabe atuando sem levar em conta os demais – perseguindo um ótimo local – o que nos leva a mais esforços e menos sincronização.

Em implementações típicas percebe-se uma redução de 40 a 50% nos lead times totais, um aumento no desempenho de entrega para 98% ou mais (dependendo da disponibilidade de matéria prima) e é revelada capacidade produtiva de 15 a 30%.

Vale lembrar que essa abordagem muitas vezes ser adotada em sintonia com o uso de um software de gestão de estoque, evitando, dessa forma, que seja produzido mais ou menos que o necessário para atender a demanda do consumidor final.

Em uma era de hipercompetitividade e de consumidores cada vez mais exigentes, o fluxo de informações e a maneira com a qual a cadeia de produção é executada interferem profundamente no engajamento e qualidade dos produtos e serviços. A Teoria das Restrições tem o objetivo de dar inteligência e eficiência a todo esse fluxo logístico.

A propósito, sua empresa atua em qual setor? Como acha que essa metodologia TPC poderia ser aplicada no contexto de sua organização? Deixe abaixo sua mensagem!

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